29.1.08

Vítor Nogueira

COMÉRCIO TRADICIONAL

Chapéu

A mensagem é subtil:
se não trouxesse as mãos ocupadas,
tiraria o chapéu ao entrar na loja.
Por conseguinte, aceita ajuda com
as compras (cuidado com o saco,
os ovos estão no fundo).

Como sempre, procura
uma marca barata. A vida é assim,
às vezes temos sorte e conseguimos
o que queremos. Ou então,
ao contrário do que dizem,
o comércio tradicional é uma mina,
para quem souber onde escavar.

Enfim, pessoas com quem nunca tivemos
uma conversa séria. E, no entanto,
parecendo que não, fazemos coisas
uns pelos outros que dificlmente
poderiam ser postas num contrato.
Estará nisto a nossa sobrevivência,
ainda que sem perdão?

Dessa complexidade não queremos falar.
A manhã inclina-se sobre a hora
do almoço. Temos todos de ir para casa,
é tão simples como isso. Amigos,
os vossos casacos. Hoje o vento está áspero,
mas já enfrentámos pior.

In Telhados de Vidro nº9, Novembro de 2007

28.1.08

Correndo o risco de me repetir,

esta gente é patética, daninha, ridícula e sinistra. Quatro papagaios amestrados não teriam produzido comentários mais harmónicos. Cada um mais entalado do que o outro. Que falta nos faz uma operação "mãos limpas", ou assim.

27.1.08

Descontinuando

A latosa destes gajos é já tão desenfreada, que uma pessoa dá por si a assistir em directo (ontem à noite) ao espectáculo do ministro Campos a explicar à atarantada jornalista-SIC qual a metodologia que a menina devia seguir para que o governo e o Serviço Nacional de Saúde não ficassem noticiosamente mal vistos. Que não devia, por exemplo, concentrar-se tanto nos aspectos menos bons do SNS, apostar antes nos que correm bem. Ou seja: prestar menos atenção ao facto de pessoas desabarem de macas, esperarem quatro e seis horas para serem atendidas, nascerem e morrerem ao calhas, etc., e em vez disso insistir na ideia (factual, sem dúvida) de que a maioria dos utentes sai sã e salva dos hospitais públicos...

Mas será que nunca ninguém explicou a estes próceres da política rasca, saídos sabe-se lá de que furnas empresariais, que a função do jornalista é precisamente divulgar o que correu mal, já que aquilo que corre bem é, em termos noticiosos, um não-acontecimento? E, de caminho, não haverá nenhum designer de comunicação que faça ver ao homenzinho da Saúde que a utilização do verbo "descontinuar" pelo verbo "encerrar" é uma das definições nucleares do substantivo "idiota"?

Temos assim um ministro que defende o modelo de jornalismo norte-coreano, um jornalismo de apoio ao desempenho governativo. Pode-se dizer que já não nos falta tudo para voltarmos ao 24 de Abril de 74. Mas o que vale a esta choça de carteiristas políticos é que os portugueses são por educação e temperamento servilmente apáticos e muito respeitadores das hierarquias, nutrindo especial carinho por figuras paternais e autoritárias, que os saibam tranquilizar com palavras firmes e meigas.



(Na foto, o Ex.mo Sr. Dr. Ministro Campos preparando uma alocução à Valorosa Classe Jornalística, no âmbito das Comemorações do Dia Nacional da Informação Fidedigna e Construtiva)

25.1.08

Anúncios Pessoais

Bolso furado
procura moeda
que possa guardar.

*

Noite escura
procura janela
iluminada.

*

Pião preguiçoso
procura baraço
que o faça girar.

*

Violino feliz
procura ombro
onde chorar.

*

Pá de coveiro
procura colocação
em panificadora.

(1995)

24.1.08

É que sai direitinho

Há dias em que tudo corre bem e até a tipografia ajuda à rectificação do mundo. Se não, veja-se como o primeiro caderno de As Chamas e as Almas se dispõe amavelmente, com dois cortes limpos e subtis, a remover-nos da vista o prefácio de Inês Pedrosa, deixando-nos exactamente onde queríamos: a primeira página de Crónicas do Cruzado Osb. Com essa sapiência tipográfica, não se desfiguram os livros com rasgões abrutalhados e fácil se torna a reciclagem do papel. O meu bem-haja à sábia mão que compõe na Tipografia Guerra, de Viseu.

Agustina põe e dispõe # 2

"Esse laço de família, próxima ou remota, dava ao Norte uma identidade entre conservadora e rebelde, porque é entre os que bem se conhecem que muito se intriga. Os costumes eram, ao mesmo tempo, licenciosos e discretos; de lei severa, e prática condescendente. Isto, com a paisagem frondosa e soalheira, proporcionava uma vida sem drama; havendo fantasia quotidiana, faltava a imaginação de longo alcance. As pessoas coabitavam com o seu gado, os seus inimigos e os seus credores, com uma multiplicidade de sentimentos que ora estancava a tragédia, ora transformava a lealdade em pequenos delitos que iam dar azo a novas alianças. Povo inseguro nas paixões e por elas desgovernado, tinha porém o palpite da mediocridade para se defender dos extremos."

Paixão e Glória

Agustina põe e dispõe # 1

"- Já a vossa mãe se aborrecia comigo. Acho que sempre fui colonizado pelas mulheres, à maneira portuguesa. Descobrem-me e depois abandonam-me - dizia. Tinha por hábito confessar coisas um pouco insólitas - o que o fazia parecer inteligente. Escrevera um livro de mineralogia, atribuía ao subsolo da regiao riquezas prodigiosas - ouro, cobre, urânio. Sem que compreendessem nada, isto alimentava a fantasia das pessoas, que se tradzuia em gratidão. "Um dia vamos todos ficar ricos" -pensavam."

Crónicas do Cruzado Osb.

23.1.08

Lapidário # 8

"Mas, então, este mundo foi criado para que fim?", perguntou Cândido.
"Para nos irritar", respondeu Martin.

Voltaire, Cândido.

22.1.08

"Não há dinheiro para os salários?"

"Segundo o FMI, nos países membros do G7, a parte dos salários no PIB diminuiu 5,8% entre 1983 e 2006. Segundo a Comissão Europeia, na UE a parte dos salários diminuiu 8,6%; em França, baixou 9,3%.
Devido ao gigantismo dos montantes em causa, estes 9,3% deveriam estar no centro do debate, podendo basear-se nesta cifra toda a contestação às "necessárias reformas em curso" (regimes especiais, aposentações, segurança social e também o poder de compra). Mas é o contrário que se passa: esta cifra vê-se por assim dizer eliminada da esfera pública, não aparece nos media e os responsáveis políticos mal a mencionam.
Podemos avaliar o que significa esta transferência de riqueza tendo em conta que o PIB da França corresponde a cerca de 1,8 biliões de euros. "Temos portanto, grosso modo, 120 a 170 mil milhões de euros que fugiram do trabalho para o capital" [...] Ou seja, um montante que corresponde a mais de dez vezes o défice da Segurança Social (12 mil milhões) e a vinte vezes o das aposentações (5 mil milhões). Estes últimos "buracos" financeiros são amplamente mediatizados, mas alude-se menos ao buraco, muitíssimo mais profundo, escavado pelos accionistas no bolso dos assalariados."
François Ruffin, Le Monde Diplomatique, Jan.08

O capitalismo para o povo, o povo para o capitalismo.

Uma massa de egoístas idiotas, esfalfando-se aos pulinhos, hierarca, num recreio prisional, em concorridos círculos, sem jamais se aperceber de que viver e perder tempo não é bem a mesma coisa, que lucrar não é vencer, nem vencer acumular.



E quem não chega a perceber os mecanismos que o movem, como pode dar-se conta de que nada o subordina ao roda-pé duma existência servil?

17.1.08

Os Desastres de Sofia

É seguramente um dos filmes mais parvinhos que vi na vida, este "Maria Antonieta" da Coppola Junior. A história reduzida à dimensão visual de um video-cake, e a mulher de Luis XVI transformada em ícone pop para consumo de adolescentes retardados. Que a desmiolada Sofia tenha curtido bué a ideia de filmar esta espécie de anúncio sem produto no cenário ultra-kitsch de Versailles, compreende-se; o que se compreende menos é como é que lhe deram 40 milhões para brincar às bonecas. Que perda de tempo.

16.1.08

Um florescimento-fantasma

Num texto onde tenta perspectivar a absoluta novidade histórica e a central importância de uma revolução "popular" triunfante (sem atender, porém, como todos os crentes, às razões do seu calamitoso fracasso), Manuel Gusmão diz a dada altura esta coisa espantosa: "A revolução [soviética] é acompanhada por um florescimento artístico e cultural incomparável" (Le monde diplomatique, Jan 08).
Não é isso verdade, nem podia, dadas as premissas autoritárias de um regime que desde o primeiro momento hostilizou toda a independência crítica e toda a liberdade de criação,um regime que interpretou de forma literal o lamento brechtiano de que falar de árvores é quase um crime. Na União Soviética, tanto quanto sei (mas talvez saiba pouco), tudo o que não fosse entusiástico apoio ao regime era delito de opinião. E, mais do que falso, é verdadeiramente obsceno falar em "florescimento artístico" quando toda a gente sabe qual foi o destino dos intelectuais russos no período 1917-1991: os melhores emigraram, calaram-se ou foram liquidados, e os piores limitaram-se a lutar pela vida, traindo-a e traindo-se a si próprios. Claro que Gusmão não exemplifica em que se terá manifestado esse suposto florescimento artístico. Poderia, quando muito, ter falado em Eisenstein e Dziga Vertov (rapidamente anulados, de resto). O que me parece pouco para um "florescimento". Houve mais alguma coisa?
A verdade é que dirigismo e arte são incompatíveis, razão pela qual os revolucionários profissionais sempre desconfiaram dos artistas. Demasiado independentes, demasiado egoístas, demasiado pessimistas, demasiado burgueses, no fundo. Uma arte proletária é simplesmente um oximoro. E um dos equívocos dos revolucionários profissionais russos e seus comissários para as artes foi não terem compreendido que o objectivo devia ter sido elevar o povo à arte, em vez de a fazer descer ao povo. Mas isso seria outro programa e outra história.
Seja como for, nada disto tem o mínimo interesse.

13.1.08

Ángel Gonzalez (1925-2008)

INVENTARIO DE LUGARES PROPICIOS AL AMOR

Son pocos.
La primavera está muy prestigiada, pero
es mejor el verano.
Y también esas grietas que el otoño
forma al interceder con los domingos
en algunas ciudades
ya de por sí amarillas como plátanos.
El invierno elimina muchos sitios:
quicios de puertas orientadas al norte,
orillas de los ríos,
bancos públicos.
Los contrafuertes exteriores
de las viejas iglesias
dejan a veces huecos
utilizables aunque caiga nieve.
Pero desengañémonos: las bajas
temperaturas y los vientos húmedos
lo dificultan todo.
Las ordenanzas, además, proscriben
la caricia ( con exenciones
para determinadas zonas epidérmicas
-sin interés alguno-
en niños, perros y otros animales)
y el «no tocar, peligro de ignominia»
puede leerse en miles de miradas.
¿Adónde huir, entonces?
Por todas partes ojos bizcos,
córneas torturadas,
implacables pupilas,
retinas reticentes,
vigilan, desconfían, amenazan.
Queda quizá el recurso de andar solo,
de vaciar el alma de ternura
y llenarla de hastío e indiferencia,
en este tiempo hostil, propicio al odio.

12.1.08

10.1.08

Burros, sacanas, surdos, parvos

Como é que deve ser ratificado o Tratado de Lisboa?
Pelo Parlamento 54% 671 votantes
Por referendo 46% 571 votantes


O inquérito é do jornal Público, as respostas são de português, os versos são de Jorge de Sena, e a conclusão é que temos uma democracia à exacta medida da nossa preguiça mental.

O BECO SEM SAÍDA, OU EM RESUMO…

I
As mulheres são visceralmente burras.
Os homens são espiritualmente sacanas.
Os velhos são cronologicamente surdos.
As crianças são intemporalmente parvas.
Claro que há as excepções honrosas.

III
Humanamente feitas são as coisas,
e as ideias, as obras de arte, etc.
mas que diferença há entre ser-se uma besta na Ilíada
ou no Vietname?

V
Que haja Deus ou não
e a humanidade venha a ser ou não
e os astros sejam conquistados (ou não)
apenas terá como resultado o que tem tido:
uma expansão gloriosa do cretino humano
até ao mais limite.

VI
A vida é bela, sem dúvida,
sobretudo por não termos outra,
e sempre supormos que amanhã se entrega
o corpo que já ontem desejávamos.

VII
O poeta Rimabud anunciava o tempo dos assassinos.
Sempre foi o tempo dos assassinos
- e mesmo um deles é o que ele era.

VIII
Gloriosos, virtuosos, geniais,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Ignorados, viciosos ou medíocres,
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Do primeiro, do segundo, do terceiro ou quarto sexo:
mas burros, sacanas, surdos, parvos.
Em Neanderthal, Atenas, ou em Júpiter
- burros, sacanas, surdos, parvos.

9.1.08

The Band of Holy Joy - Tactless

(Nunca me cansarei de o repetir: OS THE BAND OF HOLY JOY FIZERAM A MELHOR MÚSICA DOS ANOS 80.)

The Band of Holy Joy - "What The Moon Saw"

(Nâo é o melhor dos Holy Joy, é apenas o possível, num mundo onde talento rima com obscuridade e só os piores conhecem a chave do sucesso.)

8.1.08

A "democracia" à maneira liberal # 3, ou O que vale uma promessa eleitoral

"José Sócrates não vai propor referendo ao Tratado de Lisboa"

PÚBLICO, 08.01.2008

Gosto de Ti Quando Estás Só # 15

Intersection, J. Koudelka, 1976

7.1.08

This is not America # 2






(As fotos são de Rafael Carvalho, do blogue Arquitectura dOuro

5.1.08

A costa já está. Para o interior agora, "rapidamente e em força"

"Interior rural é o próximo alvo do turismo do Algarve"
Público, 4-1-08

4.1.08

Arquitectura tradicional portuguesa

Um meu projecto antigo para este blogue era a publicação de fotos de casas portuguesas tradicionais, que a proverbial estupidez lusitana tem vindo a demolir de forma acelerada nos últimos trinta anos. Em nenhum país do mundo se destrói tanta beleza por segundo, pois em nenhum país do mundo existe tanta beleza arquitectónica por metro quadrado. Não falo, evidentemente, de arquitectura monumental, como igrejas ou palácios, pois nesse aspecto qualquer vilória italiana tem mais para mostrar do que Portugal inteiro; falo antes de pequenas ou médias casas de habitação, invariavelmente construídas com materiais da região onde estão inseridas, e com um sentido das proporções e do enquadramento paisagístico que a boçal arquitectura moderna despreza ou ignora quase por completo. Não sei como pôde tal milagre acontecer, mas no panorama da cultura portuguesa é para mim evidente que a principal manifestação de um génio autóctone, se existe, é na arquitectura tradicional que o podemos encontrar. O que seria, digamos, a literatura portuguesa sem a influência latina, provençal, italiana, castelhana, francesa ou inglesa? Algo de inconcebível. E o mesmo em relação a todas as outras artes, incluindo a arquitectura monumental (Alcobaça, por exemplo, por esplêndido que seja, é só uma das centenas de catedrais góticas espalhadas pela Europa). Mas uma casa agrícola minhota ou beirã, um “monte” alentejano, uma casa burguesa do Porto antigo, são verdadeiros prodígios, não só de equilíbrio formal, como de adaptação às condições locais. Pequenos poemas em pedra, às vezes. E ninguém no seu perfeito sentido estético poderá dizer que os equivalentes espanhóis, italianos, alemães ou chineses deste tipo de estrutura sejam melhor concebidos.

E, como não podia deixar de ser (pois para alguma coisa somos portugueses), é precisamente o melhor da cultura nacional que a ignorância e a incúria do Estado e dos particulares tem vindo a destruir com tenaz e paciente sanha. Arrasam-se casas levantadas com gosto e com técnicas de construção que levaram séculos a apurar, para no seu lugar construir pardieiros de luxo, cuja visão nos gela o sangue. A desertificação do interior é em parte responsável por esse abandono, mas como justificar que até nas colmeias urbanas isso aconteça? Estupidez pura.

O projecto de fotografar casas antigas passava pois pela intenção de um requiem ao que de mais autêntico criaram os portugueses, em oitocentos e cinquenta anos de pobreza. Por diversos motivos, nunca cheguei a iniciá-lo, embora more num dos distritos onde mais abunda a bela arquitectura tradicional. Felizmente, há quem se tenha lembrado do mesmo, e blogues como este , este , este e este , além de prestarem um verdadeiro serviço público, acabam por ser um bálsamo para os olhos. Que se mantenham por muitos anos.

3.1.08

O Triunfo dos Poucos

Uma mulher morre num corredor de hospital, quatro horas depois de lá ter entrado, sem ter experimentado a felicidade de saber de que morria, pois não chegou a ser vista por médico nenhum. Urgências sobrecarregadas, alega a direcção do hospital; a que não será alheio o furioso processo de encerramento de blocos de urgência, acrescenta a Ordem dos Médicos.

Enquanto os portugueses não perceberam que a democracia foi sequestrada por esta récua de inimigos públicos que há trinta anos nos governa, nada vai mudar. O partido único (mas dividido em duas alas, para melhor simulação) no poder desde o 25 de Abril já não sente a necessidade de fingir sermos nós, povo, o seu eleitorado, uma vez que não é o o zé-comum quem lhes financia a campanha eleitoral e respectiva eleição.

Coadjuvados pela perpétua chusma de funcionários intelectuais, tão necessária, em democracia, para o controle da opinião pública, os verdadeiros dirigentes do país sabem organizar-se de modo a garantir os preciosos ofícios dos seus políticos. Quanto a estes, não passam de actores num espectáculo de marionetas cuja produção há muito não controlam. Transitam do estado para as empresas e das empresas para o estado, negociando invariavelmente contra o interesse público (isto é, geral) e em favor de interesses particulares (a começar pelos seus, claro).
No meio de todo este circo patético, a única coisa que não se percebe é por que é que ainda fingem eleições, com a mentira do sufrágio popular e a imagem do povo como fonte do poder. Mais valia elegerem os deputados nos conselhos de administração das 100 maiores empresas – ficava-nos mais barato.

Quanto à senhora que morreu, não tinha qualquer vínculo familiar com o ministro da saúde ou com qualquer outro ministro, deste ou de anteriores governos desde a fundação da nacionalidade. Era apenas mais um dos parvos que ainda pensam que os políticos são eleitos por nós e para governar em função do bem comum. Uma ilusão, essa, que só os mais ingénuos conseguem ainda sustentar. Em países onde o processo de sequestro da democracia pelos detentores do poder económico está mais avançado (como é o caso dos EUA), metade dos eleitores já nem se dá ao trabalho de ir votar. De facto, se a única escolha possível é entre duas alas de um mesmo partido, é indiferente o nome do vencedor.

Termino com um dos meus votos para o corrente ano: que o ministro da saúde seja acometido por um badagaio doloroso e generalizado, que o leve a quatro horas de internamento num corredor de hospital, seguido de óbito e respectiva purificação política.