22.1.08

"Não há dinheiro para os salários?"

"Segundo o FMI, nos países membros do G7, a parte dos salários no PIB diminuiu 5,8% entre 1983 e 2006. Segundo a Comissão Europeia, na UE a parte dos salários diminuiu 8,6%; em França, baixou 9,3%.
Devido ao gigantismo dos montantes em causa, estes 9,3% deveriam estar no centro do debate, podendo basear-se nesta cifra toda a contestação às "necessárias reformas em curso" (regimes especiais, aposentações, segurança social e também o poder de compra). Mas é o contrário que se passa: esta cifra vê-se por assim dizer eliminada da esfera pública, não aparece nos media e os responsáveis políticos mal a mencionam.
Podemos avaliar o que significa esta transferência de riqueza tendo em conta que o PIB da França corresponde a cerca de 1,8 biliões de euros. "Temos portanto, grosso modo, 120 a 170 mil milhões de euros que fugiram do trabalho para o capital" [...] Ou seja, um montante que corresponde a mais de dez vezes o défice da Segurança Social (12 mil milhões) e a vinte vezes o das aposentações (5 mil milhões). Estes últimos "buracos" financeiros são amplamente mediatizados, mas alude-se menos ao buraco, muitíssimo mais profundo, escavado pelos accionistas no bolso dos assalariados."
François Ruffin, Le Monde Diplomatique, Jan.08

2 comentários:

Cadáver Morto disse...

É preciso ir um bocadinho mais fundo na análise do que isso.

Levar em linha de conta os seguintes factores:

Envelhecimento da população menor natalidade e menor mortalidade - > Diminuição da população activa -> menor massa salarial e maiores transferências sociais
Especialização produtiva em indústrias capital intensivo -> diminuição da massa salarial
Aumento dos salários médios -> substituição do factor trabalho pelo factor capital na indústria
Diminuição das taxas de juro -> aumento das cotações no mercado de capitais -> aumento das mais valias de capital -> aumento da % do PIB correspondente ao K
Popularização do capital -> remunerações da população não decorrem só do seu salário (a generalidade das pessoas têm poupanças aplicadas e remuneradas)

etc, etc, etc

JMS disse...

Mas, em economia, há profundidade maior do que a dos números na sua crueza? 120 mil milhões transferidos dos salários para os accionistas e os patrões. Défice da seg. social: 12 mil milhões. Podemos tentar justificar e explicar essa transferência de muitas maneiras; mais difícil é negá-la, e negar o impacto empobrecedor que tem na vida das pessoas que não são patroas nem accionistas.