2.2.08

Fidalguia e Aristocracia

É encantador ver o país mediático tomado de compunção snobe e parola pelo que há cem anos dois idealistas republicanos fizeram a um representante da nobreza tuga. Amontoam-se laudas – sob a forma de comentários, reportagens, artigos, biografias – ao régulo Carlos I (porque não se pode chamar rei ao monarca duma “piolheira”, como o próprio se referia à sua propriedade), & descobrem-se-lhe talentos de pintor e de oceanógrafo para ocultar o desastre do seu desempenho político, só faltando mesmo que o crismem de pai extremoso ou marido poupadinho e exemplar, para que a figura do régio velejador se ajustasse bem ao compêndio das virtudes burguesas.
O fascínio pequeno-burguês que estes consumidores de Holas nutrem pelo beau monde da fidalguia traduz, mais do que tudo, o seu amor servil pelas hierarquias e pela autoridade. O sonho do pequeno-burguês típico era ascender ao privilégio de descalçar as botas ao Senhor D. Carlos. Um sonho de lacaios, evidentemente.

Uma coisa que estas viúvas de Carlos I não sabem é que nobre, ou fidalgo, não é o mesmo que aristocrata. A aristocracia é uma qualidade de certos espíritos e pode-se resumir a isto: o desprezo pelas convenções sociais e pelas opiniões (estéticas, políticas, morais) do vulgo ou do rebanho intelectual. Não há ninguém menos preocupado com o que se possa pensar a seu respeito do que um aristocrata; tal como não há ninguém que mais valorize a opinião e o respeito dos outros do que um burguês.
Assim, a aristocracia não tem nada a ver com ser filho d’algo (ou fidalgo), mas tem tudo a ver com não ser filho de ninguém, isto é, não reconhecer a superioridade ou a autoridade de seja quem for sobre o seu espírito e a sua vida. Tem a ver com a liberdade de ser e estar sem recear a censura dos fiscais do comportamernto alheio. Neste sentido, existe mais espírito aristocrático num biscateiro orgulhoso, que prefira trabalhar quatro tardes por semana a submeter-se às rotinas dum trabalho assalariado, do que em qualquer cortesão de Luís XIV obcecado com o prestígio da sua Casa e do seu Nome.

3 comentários:

Anónimo disse...

«O socialismo é uma aristocracia para todos» Sophia

JMS disse...

Talvez, desde que não seja o "socialismo" sociopata do engenhoso sócrates...

Anónimo disse...

jm,

Esse não é socialista. Apenas uma máscara. Tira-se a máscara... e não há nada por baixo. Apenas a imbecilidade.