11.9.07

Jürgen Theobaldy

Socialismo em Cannes

"M., estrela de filmes de intervenção política, foi
o único que, durante o festival de cinema,
entrou no casino sem o laço do smoking.
M., que "não suporta estas coisas nem à lei da bala",
trazia um lenço vermelho vivo por baixo
dos três botões abertos da camisa branca.

Alguns jovens trabalhadores, que achavam
os seus três últimos filmes belos e úteis,
gostariam de ter falado com ele, mas
não puderam entrar. Não é que não estivessem
dispostos a pôr um laço, só que
depois ainda lhes faltava o smoking."


(Tradução de João Barrento)

7 comentários:

Anónimo disse...

Poderia ter a bondade de me indicar o livro em que estes poemas traduzidos por J. Barrento se encontram?

Anónimo disse...

Poemas "belos e úteis" também o Sr. os faz. E nem de echarpe!

JMS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JMS disse...

Barrento traduziu vinte e tal poemas de Theobaldy, que infelizmente (tanto quanto sei) nunca foram editados em livro. Apenas numa revista, intitulada "Correspondência Literária" nº 1 (e único) publicada aí pelo início dos anos 80.

Anónimo disse...

Agradeço a informação. Se algum dia lhe aprouver publique outro.

JMS disse...

Não sei se conhece este, em todo o caso aí vai:


BOLO DE QUEIJO E NATAS



Depois ela empurrou
o prato para o lado
voltou-se para mim e disse
que sempre quis
fazer qualquer coisa de grande
de extraordinário
de dar à sua vida
qualquer valor
mas agora é que via
como tudo se lhe escapava
em conversas banais
em tardes de rotina
com pessoas que apenas
procuravam matar o tempo
e eu sentado a ouvi-la
pois já há um bocado
tinha que ir à retrete
por causa deste bolo de queijo e natas
e não me atrevia
a interrompê-la
porque estava a gostar
do que ela dizia
e de como o dizia
até que ela me perguntou
como eram as coisas comigo
porque afinal eu escrevia poemas
e eu disse pois é
eu escrevo poemas
desculpei-me
e fui finalmente à retrete
meditar sobre
a minha vida e o seu valor

(Tradução de João Barrento)

Anónimo disse...

Não conhecia e agradeço-lhe que tenha tido a atenção de o publicar.
Espero que não se importe que eu tenha o atrevimento de lhe enviar um mail, onde lhe explicarei diversas coincidências.