6.6.07

Pobres e mal agradecidos, se calhar queriam que a Pfizer testasse o medicamento em crianças americanas...

"O maior dos estados nigerianos, o de Kano, no Norte do país, com uma população predominantemente muçulmana, processou esta semana a multinacional farmacêutica norte-americana Pfizer, à qual pede 7000 milhões de dólares de indemnização (5200 milhões de euros) por ter utilizado 200 crianças como cobaias para um teste que levou a 11 mortes e a muitas deformações. As autoridades daquele estado de quase seis milhões de habitantes, essencialmente das etnias hausa e fula, acusam a Pfizer de em 1996 ter utilizado secretamente crianças africanas para experimentar o medicamento Trovan Floaxin, como se de um gesto humanitário se tratasse.
Foi em Abril daquele ano que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Pfizer se ofereceram para ajudar a combater uma epidemia de sarampo, cólera e meningite que vitimou mais de 3000 pessoas. A empresa nega ter administrado trovafloxacina sem autorização, a perto de 200 crianças com meningite, inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a espinal medula. Para além das 11 crianças que não resistiram, 181 desenvolveram surdez, paralisia, danos cerebrais e cegueira, tendo o escândalo levado a população do velho emirado do Kano, ocupado em 1903 pelo Reino Unido, a rejeitar quaisquer vacinas, incluindo para a poliomielite.
Resposta da Pfizer
Um tribunal federal de Manhattan, nos Estados Unidos, já rejeitou em 2001 um processo intentado contra a Pfizer por nigerianos que declaravam ter participado no estudo, mas estes não desistiram. E foram agora as autoridades estaduais a argumentar que o caso provocou a desconfiança de uma boa parte da opinião pública contra os programas de saúde."
Público, 6 Junho 07

14 comentários:

Cadáver Morto disse...

Esta notícia é facciosa e parece-me claramente encomendada.

Aqui vai a história verdadeira:

Em 1996 a Pfizer encontrava-se na última fase de desenvolvimento do Trovan (princípio activo trovafloxacina). Este medicamento é um antibiótico de largo espectro. Na Nigéria, mais concretamente na região de Kano, ocorreu um surto de meningite menigocócita, situação recorrente na África subsaariana.
Este medicamento já havia sido testado anteriormente em 5000 pacientes, situação comum quando se pretende lançar uma nova droga no mercado.
A Pfizer deslocou para essa região da Nigéria um laboratório e uma equipa científica para testar o Trovan por cotejo com outro princípio activo (ceftriaxona) também fornecido pela Pfizer e comummente utilizado no tratamento desta infecção.
A taxa de sobrevivência de pacientes infectado com a meningite é de apenas 60%.
O Trovan apresentou uma taxa de sobrevivência de 94,4% a ceftriaxona apresentou 93,8%. O Kano Infectious Disease Hospital, administrando os medicamentos disponíveis (excluindo Pfizer), apresentou 89,9%. No mínimo o Trovan foi tão eficaz como qualquer outro medicamento.
De facto a utilização do Trovan salvou vidas.

Este medicamento foi aprovado pela FDA em Dezembro de 1997 e introduzido no mercado em Fevereiro de 1998. O Trovan continua a ser utilizado na prática médica nos EUA . Em Junho de 1999 foi descoberto que este medicamento pode ter efeitos secundários ao nível hepático pelo que a sua utilização em massa é desaconselhada devendo ser reservada para os pacientes que apresentam determinadas caraterísticas (cf. http://www.fda.gov/cder/news/trovan/trovan-advisory.htm )

Porque foi realizado o teste na Nigéria e não nos EUA ou na Europa?
Este medicamento objectiva intervir em situações de epidemia. Nem nos EUA nem na Europa existem epidemias de meningite menigocócita como, infelizmente, existem em África.
Aliás, África é um excelente local para experimentar toda e qualquer droga nova tal o manancial de doenção, epidemias ou infecções que por lá existem. É pena mas é verdade.
A Pfizer informa que as populações locais foram informadas do carácter experimental do medicamento, fosse em inglês fosse na língua local -Hausa-. A população nigeriana como a restante de África é maioritariamente analfabeta pelo que não seria de esperar um consentimento escrito para a utilização como é prática na Europa ou nos EUA. Pode-se sempre duvidar que tal informação tenha sido prestada, é claro. Sendo verbal não existem evidências. Mas também não existem evidências que o não tivesse sido.

Rematando:

A Pfizer tem lucros enormes? Tem.
Há algum mal nisso? Nem por isso.
Há empresas interessadas numa fatia desse lucro? Há.
Há agências de informação que plantam notícias nos jornais? Há.
Há jornalistas que não fazem o trabalho de casa e transcrevem as "notícias" que lhes fornecem as agências? Há.
Há blogueiros bem intencionados mas algo preconceituosos contra as grandes empresas que fazem eco dessas notícias? Há.
Há meningite, ébola, sida, paludismo, minas antipessoais, Mugabes e outras desgraças em África? Há.
Há um bom sistema de saúde na Nigéria? Não.
Há multinacionais a ganhar muito dinheiro em África? Há.
Há gente a morrer de fome em cima de minas de diamantes ou jazidas de petróleo? Há.
Há Darfur? Há.

Conclusões? Tira as que quiseres.

Já agora os meus parabéns atrasados.

JMS disse...

Bom, rapaz, vendi-te a mercadoria pelo preço a que comprei. Confesso que não a testei, mas como o "Público" ainda me merece alguma credibilidade... De resto, estas histórias e rumores de medicamentos testados à toa nos países subdesenvolvidos não é de agora. Até filmes e documentários se fizeram já sobre o assunto. Mesmo nos EUA, há gente a processar o governo por ter servido de cobaia, nos anos 50, a medicamentos de cujos riscos não tinham sido informados. Talvez eu seja demasiado pessimista (ou preconceituoso, se preferes), mas de governos e grandes empresas farmaceuticas espero sempre o pior, pois sei que os escrúpulos não abundam em certos meios. Daí que não me custe nada acreditar que a Pfizer, a Roche e todas as outras tenham práticas pouco éticas. Mas também não me custa acreditar que possas ter razão neste caso.
Há porém algo que não bate muito certo nesta história, pois tu falas em efeitos secundários ao nível hepático, enquanto que a notícia refere "surdez, paralisia, danos cerebrais e cegueira". Estaremos a falar do mesmo medicamento? Mas talvez "efeitos secundários ao nível hepático" tenha sido uma forma simpática que a FDA encontrou para dizer "surdez, paralisia, danos cerebrais e cegueira". Repara, contudo, que, segundo a notícia, a coisa foi testada em 200 crianças. Dessas 200, 11 terão morrido, 181 desenvolveram os tais efeitos secundários nada simpáticos acima referidos, e presume-se que as restantes 8 tenham saído de lá sãs e salvas. Ora, estes números, a serem verdadeiros, contradizem um pouco a versão de que o tal Trovan "pode ter efeitos secundários". Medicações das quais só saem ilesos 5% dos pacientes, parecem-me mais uma arma de destruição massiva, um crime portanto, do que um tratamento.

Anónimo disse...

Caro cadáver,

apesar da idade cadavérica parece-me, vocelência, algo ingénuo se acredita em tudo quanto disse. Percebo agora que é para si que os telejornais falam quando ecoam a voz do dono - fico descansada por saber que falam para alguém, às vezes penso "estes gajos pensam que comemos mesmo o que eles querem que comamos?" Preocupava.me a falta de audiência, mas vejo que enquanto houver crédulos como vocelência, não haverá problema.

De todas as coisa que disse, gostaria de comentar estes brilhantes pares de pergunta/resposta:

" A Pfizer tem lucros enormes? Tem.
Há algum mal nisso? Nem por isso."

O que me incomoda aqui é a resposta à segunda pergunta, o "nem por isso". Permita-me que discorde. Do meu ponto de vista preconceituoso (como certemente o considerará) ter lucros enormes significa vender produtos a um preço exagerado para se distribuir os lucros por indivíduos alapados em poltronas de couro a beber uísquis, com a caixa registadora ao colo multiplicando, multiplicando. Ora isto para mim está errado em todas as empresas. Os lucros do trabalho deveriam ser usados para melhorar as empresas e as condições de trabalho nas mesmaa ou dstribuídos por quem trabalha e não por quem joga às cartas na bolsa. É uma ideia cá muito original que eu tenho, desculpe lá.

Depois há a questão dos "lucros enormes" serem de uma empresa farmacêutica. Se esses senhores precisarem de lucros para proporcionar um investimento na investigação na área da saúde, então concordo, mas não é para isso, pois não? É mais uma vez para os tipos anafados dos uisquis e registadoras enriquecerem sem mexerem o traseiro delicado que deus lhes deu, não é? Então, desculpe, mas está mesmo muito mal.

E ainda bem que os nossos filhos não vivem no Darfur - a tragédia na vida dos outros é tão reconfortante.

Anónimo disse...

Primeiro que tudo:

Meningite - é uma infecção das membranas (meninges) que recobrem o cérebro por elementos patológicos como vírus, bactérias, fungos ou protozoários. Quando ocorre compremetimento concomitante do tecido cerebral, pode ocorrer meningoencefalite.

Contágio - relacionado com o tipo de agente infector.

Sintomas - cefaleia intensa, náuseas, vómitos e confusão mental. Febre alta, mal-estar e agitação psico-motora. Rigidez da nuca.

Tratamento - deve ser iniciado o mais rapidamente possível e com antibióticos administrados via endovenosa, pois corre-se o risco de vida e de sequelas graves, como, por exemplo, "surdez, paralisia, danos cerebrais e cegueira".

Esclarecidos?

JMS disse...

Obrigado, anónimo.

A única coisa que fica então por esclarecer é como é que um mesmo medicamento provoca , em África, efeitos secundários devastadores em 95% das pessoas submetidas a tratamento, e nos EUA, aparentemente, não. Pois é impossível acreditar que alguém lançasse no mercado americano um fármaco com tão baixos índices de sucesso. Suspeito, portanto (partindo do princípio que os nigerianos não estão a mentir, claro) que aquilo que a Pfizer testou na Nigéria em 1996 não é exactamente o mesmo produto sobre o qual a FDA se pronunciou em 1999.

Anónimo disse...

O Público já não é um jornal mais ou menos imparcial. É veículo descarado de propaganda governamental. Podia era assumi-lo. Mantinha ainda assim uma grande fatia do mercado, mudavam os indivíduos, mas mantinha-se os números de vendas. Que diferença lhes fazia assumir a verdade??

Apesar disso, se ainda consegue lançar a discussão entre gente que pensa coisas diferentes, menos mal. Pior será quando abominarmos tanto a imprensa como os políticos.

JMS disse...

O Público sempre foi um jornal do centrão político, tendo começado um pouco à esquerda do centrão, e acabado um pouco mais à direita, desde que para lá foi o actual director. Mas ultimamente, a percepção que tenho é que eles até andam muito anti-socráticos, tendo feito (e ainda bem) uma marcação cerrada no caso da licenciatura a jacto, da Ota e outros casos. A tal ponto que houve quem chegasse a afirmar que andava nisso a mão do dono do jornal, ressabiado por lhe terem frustrado o negócio da PT...

Goretti disse...

Por favor visite http://blogcomtomates.blogspot.com. Foi nomeado.

Anónimo disse...

Com todo o respeito, a Nigéria assume, há uns bons 50 anos, o papel de "trapaceiro"na comunidade internacional.Em guerra civil há dezenas de anos, com o petróleo mais fácil de extraír que existe em todo o mundo, no delta, a profundidades de 50/60 metros, com guerrilheiros de 10 aos 13 anos armados com Kalash's, enganando meio mundo com o truque das fortunas perdidas em Bancos que não existem, a Nigéria NÃO TEM CREDIBILIDADE. E 26 milhões de dólares por criança, num paísde mais de 130 milhões, onde todos os dias morrem milhares com Kalash's e AK 47 nas mãos (entre os 10 e os 13 anos), benzam-se 3 vezes antes de opinarem sobre este assunto. Faço correntemente serviços de contact administrator e idênticos para companhias estrangeiras com contractos na Nigéria, e ponho os meus tomates num cepo, se a maior parte dos que nos lêem, fossem capazes de viver num " non protected resort" um dia que fosse...E deixem-se de merdas, que a Pfizer foi feita para ter lucros, como a Shell, a PT, a Galp, a Sonae, ou melhor, como qualquer empresa que nasça ou seja constituída...Vejam, na lista da ONU da corrupção, em que lugar está a Nigéria...a contar do fim, é mais fácil ! E não chorem lágrimas de crocodilo por esta gente...assegurem-se é se o que eles dizem é verdade...e deixem-se de merdas, vejam a discrepância de comportamentos entre a UE e USA, quanto ao "nimesulide" (Aulin, Nimed, Donulide...)...Deixem de armar em virgens castas e puras, e analisem as coisas com o cérebro e não com o resto...

JMS disse...

Com todo o respeito, acho o seu argumento de uma comicidade extrema. Para começar, falar de credibilidade a respeito de política internacional parece-me um absurdo. Para mim, a Nigéria não é menos credível do que, por exemplo, os EUA, cujas elites ainda há pouco mentiram ao mundo para justificar a destruição e o saque de um país chamado Iraque. Se fossemos por essa lógica, o único país "credível" seria a Florilândia, em pleno Oceano Médio.
Todos sabemos que as elites políticas e empresariais nigerianas são das mais corruptas de África, mas olhe que as empresas ocidentais que saqueiam o país com a cumplicidade dessas mesmas elites (ou seja, que sao os elementos activos dessa mesma corrupção) até as acham bastante "credíveis"; perderiam toda a "credibilidade, isso sim, se decidissem nacionalizar o petróleo e distribuir as suas riquezas pelos nigerianos. No dia em que um governo nigeriano fizesse isso, logo ouviríamos os dirigentes do "mundo livre" a dizerem )quem dúvida?) que aquele governo nigeriano não era credível. Porque quem decide quem é credível ou não somos nós.
Portanto, quando dizemos que a Nigéria é um país infrequentável, uma cleptocracia bárbara, convinha não esquecer que o é com a nossa cumplicidade. Ora, se os nigerianos são "credíveis" quando nos deixam roubar-lhes a principal riqueza natural, como é que perdem essa credibilidade quando se queixam da Pfizer? Estranho...

Anónimo disse...

Estranho é falar daquilo que não se sabe...estranho é ainda ser ingénuo em 2007...e muito mais estranho é não perceber (mesmo odiando os USA) que, no planeta Terra, nada se faz sem que os americanos digam amen...isto é que é verdadeiramente estranho ! Mas para não parecer assim tão estranho, fale de uma (uma que seja...) indemnização (seja qual fôr o motivo...não importa !) que tenha obtido acordo, para uma criança (não importa raça...) no valor de USD $ 26.000.000,00 ? Já o Lenine aconselhava, antes de se falar, proceder à "análise concreta da situação concreta"...E diga ao seu amigo de cima que a Nigéria não é bem na África subsaariana...é um pouco mais abaixo, depois do Sahara, entre os 5º e os 10º, embora lhe conceda ganho de causa, pois kano e Sokoto estão em cima do Sahara...

JMS disse...

Não ando muito a par da cotação actual da criança africana, pelo que não lhe sei dizer se 26 milhões de dólares está acima ou abaixo do valor de mercado. Lembro-me que em 1992 um tribunal americano condenou a MacDonald a pagar quase 3 milhões de dólares a uma mulher que se queimou com o café que lhe fora servido...
Em todo o caso, parece-me que a questão da indemnização e seu valor não é propriamente o que mais interessa discutir aqui.

Anónimo disse...

I want not agree on it. I think warm-hearted post. Expressly the designation attracted me to study the unscathed story.

Anónimo disse...

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