27.1.08

Descontinuando

A latosa destes gajos é já tão desenfreada, que uma pessoa dá por si a assistir em directo (ontem à noite) ao espectáculo do ministro Campos a explicar à atarantada jornalista-SIC qual a metodologia que a menina devia seguir para que o governo e o Serviço Nacional de Saúde não ficassem noticiosamente mal vistos. Que não devia, por exemplo, concentrar-se tanto nos aspectos menos bons do SNS, apostar antes nos que correm bem. Ou seja: prestar menos atenção ao facto de pessoas desabarem de macas, esperarem quatro e seis horas para serem atendidas, nascerem e morrerem ao calhas, etc., e em vez disso insistir na ideia (factual, sem dúvida) de que a maioria dos utentes sai sã e salva dos hospitais públicos...

Mas será que nunca ninguém explicou a estes próceres da política rasca, saídos sabe-se lá de que furnas empresariais, que a função do jornalista é precisamente divulgar o que correu mal, já que aquilo que corre bem é, em termos noticiosos, um não-acontecimento? E, de caminho, não haverá nenhum designer de comunicação que faça ver ao homenzinho da Saúde que a utilização do verbo "descontinuar" pelo verbo "encerrar" é uma das definições nucleares do substantivo "idiota"?

Temos assim um ministro que defende o modelo de jornalismo norte-coreano, um jornalismo de apoio ao desempenho governativo. Pode-se dizer que já não nos falta tudo para voltarmos ao 24 de Abril de 74. Mas o que vale a esta choça de carteiristas políticos é que os portugueses são por educação e temperamento servilmente apáticos e muito respeitadores das hierarquias, nutrindo especial carinho por figuras paternais e autoritárias, que os saibam tranquilizar com palavras firmes e meigas.



(Na foto, o Ex.mo Sr. Dr. Ministro Campos preparando uma alocução à Valorosa Classe Jornalística, no âmbito das Comemorações do Dia Nacional da Informação Fidedigna e Construtiva)

6 comentários:

Cadáver Morto disse...

Parece-me que a pessoa mais indicada para explicar essas coisas ao ministro era o cunhado dele. Como quem não quer a coisa num almoço dominical de família.

Sabes, meu lindo, é tudo a mesma cambada... tudo endogámico. Para as câmaras fazemos a pose mais adequada às circusntâncias, quando ninguém está a ver somos beijinhos e abraços.

Cambada!

JMS disse...

Desculpa a minha distração mas, quem é o cunhado ddele?

Cadáver Morto disse...

É o Chico Louçã, pá.

JMS disse...

Não sabia. Mas os cunhados não são passíveis de escolha, não é?

JMS disse...

Mas estou convencido de que eles se boicotam mutuamente os jantares de família, doutro modo não se explica como é que o Louça não arranjou maneira de lhe deitar no prato da sopa um dedal de estricnina...

Cadáver Morto disse...

Agora é que eu descobri tudo, pá!
O Chico sabota-lhe a comida com aquelas substâncias maradas que a gente sabe.
Só isso explica a política de saúde e as sucessivas declarações do homem, só pode ser...
Obrigadinho por me esclareceres, pá.