O universo da cultura popular favorece naturalmente o equívoco. Depois de ter visto o documentário (muito fraco, por sinal) de Scorsese sobre Bob Dylan, não me restam grandes dúvidas de que o maior desses equívocos tem o nome do cantor (?) americano. Apesar de não ter voz nem saber cantar, de como instrumentista não passar de um amador tosco e displicente (aquela harmónica! aquela guitarra! - patético), de escrever umas cançõezitas monótonas e desgarradas, iluminadas unicamente por um ou outro verso mais sonoro e franciú, o fanhoso Dylan conseguiu durante décadas confundir-se como um estrela mundial.
Este self-made myth é bem a prova de como o talento não passa de um estorvo; de como duas qualidades bastam para se singrar no mundo da cultura pop: fé em si próprio e desfaçatez (como no mundo da política, exactamente); possuir, enfim, aquilo a que se chama carisma. Essa luzinha basta para arrastar multidões de gente anémica e apagada, infantilizada.
4.11.07
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6 comentários:
Faço, em privado, uma das mais geniais caricaturas vocais do Dylan. Ponho todos os meus amigos a rir, e eu também rio. Não sei cantar nem tenho voz. É muito fácil: produzo uns sons ininteligíveis, que não são nada, como se tivesse acabado de me levantar depois de uma noite muito mal dormida e não conseguisse falar. É um Bob Dylan perfeito.
concordo com todos os acordes do post e da Isabela... acrescento que uísque tb ajuda...
Está tudo certo, excepto que B. Dylan tem boa voz, sabe colocá-la, atinge com naturalidade os tons «acima»; é um bom poeta; é um bom compositor, é autor das mais belas melodias da música popular americana (com influência do blues); é judeu.
Isabela, pagava para ver.
....
Caro gaf, não estará a falar do Leonard Cohen? É que a sua descrição assenta como uma luva ao autor de "The Stranger". Já o Dylan, confesso que precisaria de uma boa pázada de anfetaminas para conseguir ver nele tais atributos.
não comparo; é claro que Cohen é melhor,e Young e Waits... Mas arrumar assim com o homem...
Este tal de Bob Dylan é um pateta. A sério...
Que dizer de um homem que não usa o seu próprio nome e se esconde atrás de outro que é pertença, esse sim, de um poeta? Como tentando, por metonímia, que as qualidades de um se adiram ao outro.
Ou então sou eu que estou enganado.
Se calhar é isso. É só uma homenagem que ele queria fazer. Deve ser.
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