25.8.07

Etologia do Béu-béu

Quem alguma vez se tenha debruçado, por pouco que fosse, sobre a etologia do intelectual béu-béu, vulgo guarda-portão, sabe que lema inspira a intervenção pública deste tipo de animal: Forte com os fracos e fraco com os fortes.
A sequência de acontecimentos mediáticos Verde Eufémia-Somague foi a este respeito perfeitamente elucidativa. Os primeiros não podem ser menos do que "um bando de energúmenos", cujas acções atiçam nos béu-béus uma indignação qui lo tri ca e coros de ai-deus que a democracia está em perigo. Os segundos, uma gente gira e bem intencionada, para cujos pecadilhos se reserva um longo e curioso silêncio ou, quando muito, brevíssimos reparos nada embaraçados.

Esta fauna de prestáveis recadeiros, sempre necessária à oligarquia do momento, é tão velha como o mundo e define-se pela aplicação sofística e mercenária que dá à sua mioleira. Com as suas cabecinhas em forma de casse-tête, sempre prontos a goelar contra os crimes dos pequenos e a silenciar ou desculpar os dos grandes, os intelectuais béu-béu existem para promover o interesse do particular contra o comum, do lobo contra o rebanho, da injustiça contra a equidade, da propriedade contra a liberdade. Se Cristo aterrasse amanhã na Portela, seria imediatamente saudado pelos béu-béus tugas como “terrorista moral” ou coisa que o valha.

Embora formado num niilismo moral muito prático e rentável, o béu-béu não gosta que lhe chamem cínico nem sofista. Compreende-se: é tão fácil vender a “alma” como difícil é admitir que se a vendeu. Daí que o béu-béu tenha uma razão suplementar (não estritamente profissional, digamos) para detestar quem quer que lhe lembre a humanidade e o direito dos fracos, o mesmo é dizer, quem quer que lhe lembre a sua filhadaputice, a indignidade moral da sua opção béu-béu. Não admira que as mais encarniçadas acusações a Robin Hood procedam invariavelmente de antigos “companheiros de luta”, de trânsfugas ao ideal de justiça que na juventude os levara à floresta de Nottingham. Só esse mecanismo de auto-defesa (que de intelectual, em rigor, pouco tem) explica a inaudita sanha que os béu-béus costumam reservar para quem quer que aponte o dedo ao seu patrão, entendendo eles (e bem) que a crítica ao dono é extensível ao jeco.

2 comentários:

Diogo Vaz Pinto disse...

fabuloso este comentário - é difícil que venha a surtir efeito e a colher alguns sinais em consequência mas de qualquer das maneiras fica aqui este teu apontamento que tem um alcance muito revelador.

Cadáver Morto disse...

Eu tinha escrito um comentário assaz mordaz mas não entrou.
Ganda nóia.
Será o visto prévio?
De qualquer forma não o vou escrever outra vez.
Paciência, fica para a próxima.