29.8.07
Que eu saiba
O melhor filme de propaganda alguma vez feito: "Rugles of Red Gap" (1935) de Leo McCarey, com o grande Charles Laughton no papel de Mr. Rugles, um hirto e hierárquico mordomo inglês que o destino conduz à Freedom Land (USA) e à noção de igualdade.
25.8.07
Etologia do Béu-béu
Quem alguma vez se tenha debruçado, por pouco que fosse, sobre a etologia do intelectual béu-béu, vulgo guarda-portão, sabe que lema inspira a intervenção pública deste tipo de animal: Forte com os fracos e fraco com os fortes.
A sequência de acontecimentos mediáticos Verde Eufémia-Somague foi a este respeito perfeitamente elucidativa. Os primeiros não podem ser menos do que "um bando de energúmenos", cujas acções atiçam nos béu-béus uma indignação qui lo mé tri ca e coros de ai-deus que a democracia está em perigo. Os segundos, uma gente gira e bem intencionada, para cujos pecadilhos se reserva um longo e curioso silêncio ou, quando muito, brevíssimos reparos nada embaraçados.
Esta fauna de prestáveis recadeiros, sempre necessária à oligarquia do momento, é tão velha como o mundo e define-se pela aplicação sofística e mercenária que dá à sua mioleira. Com as suas cabecinhas em forma de casse-tête, sempre prontos a goelar contra os crimes dos pequenos e a silenciar ou desculpar os dos grandes, os intelectuais béu-béu existem para promover o interesse do particular contra o comum, do lobo contra o rebanho, da injustiça contra a equidade, da propriedade contra a liberdade. Se Cristo aterrasse amanhã na Portela, seria imediatamente saudado pelos béu-béus tugas como “terrorista moral” ou coisa que o valha.
Embora formado num niilismo moral muito prático e rentável, o béu-béu não gosta que lhe chamem cínico nem sofista. Compreende-se: é tão fácil vender a “alma” como difícil é admitir que se a vendeu. Daí que o béu-béu tenha uma razão suplementar (não estritamente profissional, digamos) para detestar quem quer que lhe lembre a humanidade e o direito dos fracos, o mesmo é dizer, quem quer que lhe lembre a sua filhadaputice, a indignidade moral da sua opção béu-béu. Não admira que as mais encarniçadas acusações a Robin Hood procedam invariavelmente de antigos “companheiros de luta”, de trânsfugas ao ideal de justiça que na juventude os levara à floresta de Nottingham. Só esse mecanismo de auto-defesa (que de intelectual, em rigor, pouco tem) explica a inaudita sanha que os béu-béus costumam reservar para quem quer que aponte o dedo ao seu patrão, entendendo eles (e bem) que a crítica ao dono é extensível ao jeco.
A sequência de acontecimentos mediáticos Verde Eufémia-Somague foi a este respeito perfeitamente elucidativa. Os primeiros não podem ser menos do que "um bando de energúmenos", cujas acções atiçam nos béu-béus uma indignação qui lo mé tri ca e coros de ai-deus que a democracia está em perigo. Os segundos, uma gente gira e bem intencionada, para cujos pecadilhos se reserva um longo e curioso silêncio ou, quando muito, brevíssimos reparos nada embaraçados.
Esta fauna de prestáveis recadeiros, sempre necessária à oligarquia do momento, é tão velha como o mundo e define-se pela aplicação sofística e mercenária que dá à sua mioleira. Com as suas cabecinhas em forma de casse-tête, sempre prontos a goelar contra os crimes dos pequenos e a silenciar ou desculpar os dos grandes, os intelectuais béu-béu existem para promover o interesse do particular contra o comum, do lobo contra o rebanho, da injustiça contra a equidade, da propriedade contra a liberdade. Se Cristo aterrasse amanhã na Portela, seria imediatamente saudado pelos béu-béus tugas como “terrorista moral” ou coisa que o valha.
Embora formado num niilismo moral muito prático e rentável, o béu-béu não gosta que lhe chamem cínico nem sofista. Compreende-se: é tão fácil vender a “alma” como difícil é admitir que se a vendeu. Daí que o béu-béu tenha uma razão suplementar (não estritamente profissional, digamos) para detestar quem quer que lhe lembre a humanidade e o direito dos fracos, o mesmo é dizer, quem quer que lhe lembre a sua filhadaputice, a indignidade moral da sua opção béu-béu. Não admira que as mais encarniçadas acusações a Robin Hood procedam invariavelmente de antigos “companheiros de luta”, de trânsfugas ao ideal de justiça que na juventude os levara à floresta de Nottingham. Só esse mecanismo de auto-defesa (que de intelectual, em rigor, pouco tem) explica a inaudita sanha que os béu-béus costumam reservar para quem quer que aponte o dedo ao seu patrão, entendendo eles (e bem) que a crítica ao dono é extensível ao jeco.
14.8.07
Jorge Riechmann
Alianza
Un bosque entero ha regresado desde tu nuca
esta noche, lo he visto conciliador,
amigo, decididamente a favor
de lo posible, tú dormías
tras la severidad de las últimas jornadas.
No quise despertarte, me refresqué en tu pulso.
Las señales parecen indudables:
podemos auxiliar a tiempo, juntos,
al número dos de dios, al tres, a otros acaso.
Ahora es sazón de no olvidar los sueños.
2
Hueles
tan bien. Hay miel como hay sudor,
hay trigo y tierra. Yo lo veo y lo oigo resonante,
tan bien. Sabes tan bien gozar.
Preservas tanto instinto de la flor a la fruta.
Yo lo veo y lo oigo y te respiro y otra vez
te tomo abierta en nuestra mesa de viento.
3
He soñado
la salvación de tu sudor
defiendo
nuestra intimidad común
ante los estragos de este cielo sangriento
recibo
en la libertad de tu cuerpo marcado
la ligera prosodia del placer
he soñado
la salvación de tu sudor.
4
Luego en el filo de la sombra
bailas
iluminada por blanca lentitud, bellísima,
tajantemente viva, sabiendo en todos los poros
y en todas las arrugas del placer,
que es bien cierta la muerte, mas sólo empieza mañana.
Un bosque entero ha regresado desde tu nuca
esta noche, lo he visto conciliador,
amigo, decididamente a favor
de lo posible, tú dormías
tras la severidad de las últimas jornadas.
No quise despertarte, me refresqué en tu pulso.
Las señales parecen indudables:
podemos auxiliar a tiempo, juntos,
al número dos de dios, al tres, a otros acaso.
Ahora es sazón de no olvidar los sueños.
2
Hueles
tan bien. Hay miel como hay sudor,
hay trigo y tierra. Yo lo veo y lo oigo resonante,
tan bien. Sabes tan bien gozar.
Preservas tanto instinto de la flor a la fruta.
Yo lo veo y lo oigo y te respiro y otra vez
te tomo abierta en nuestra mesa de viento.
3
He soñado
la salvación de tu sudor
defiendo
nuestra intimidad común
ante los estragos de este cielo sangriento
recibo
en la libertad de tu cuerpo marcado
la ligera prosodia del placer
he soñado
la salvación de tu sudor.
4
Luego en el filo de la sombra
bailas
iluminada por blanca lentitud, bellísima,
tajantemente viva, sabiendo en todos los poros
y en todas las arrugas del placer,
que es bien cierta la muerte, mas sólo empieza mañana.
12.8.07
Subscrever:
Mensagens (Atom)