VOZ INTERIOR
A minha voz interior
nunca me dá conselhos
nem faz advertências
não diz que sim
nem que não
mal consigo ouvir
o que mal pronuncia
e mesmo se me inclino para ela
apenas ouço sílabas
despidas de sentido
presto-lhe toda a atenção
trato-a com a maior deferência
finjo considerá-la meu semelhante
e que é de grande importância o que tem para me dizer
às vezes chego mesmo
a tentar manter com ela uma conversa
- sabes ontem recusei
nunca tinha feito semelhante
e também não seria agora
- glu - glu
- achas então
que fiz bem
- ga - go - gu
- ainda bem que concordas
- ma - a
- descansa agora um pouco
amanhã voltamos a falar
não me serve para nada
podia esquecer-me que existe
não tenho esperança
apenas remorsos
quando a vejo ali deitada
cheia de compaixão
respira com dificuldade
abre a boca
e tenta erguer um pouco
a sua inerte cabeça
Versão de José Miguel Silva
(a partir da tradução inglesa de C. Milosz e Peter D. Scott)
5.6.07
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