"Como se chegou a esta fúria económica que entrega todo o planeta à avidez financeira, não tolera nenhuma manifestação de vida excepto se valer a pena sacrificá-la no altar do lucro e que põe a saque os recursos humanos, animais, vegetais e minerais, com uma raiva de lucro que é a própria essência do niilismo e do terrorismo?"
[...]
"Obedecendo à lógica do capital, ainda há bem pouco tempo os patrões consagravam parte dos seus lucros a pagar os salários dos trabalhadores, a modernizar o equipamento técnico ou a construir novas fábricas. Por muito egoisticamente que fossem acumuladas, as suas riquezas acabavam por fornecer, de uma forma ou outra, com que alimentar o bem público com as suas migalhas, enquanto as lutas sociais arrancavam aumento salariais à avidez patronal, que os recuperava, por outra via, na moega do consumismo.
O dinamismo lucrativo do capitalismo de empresa cedeu lugar à preeminência das especulações bolsistas onde o dinheiro opera em circuito fechado. Gigantescas empresas, cujo carácter internacional alcançou uma eficácia nunca atingida pelas internacionais de operários, ou que assim se pretendiam, estão-se bem nas tintas para a construção de fábricas ou para a criação de empregos. Fabricam accionistas, investem cada vez menos na produção de bens úteis à colectividade, desmantelam os serviços públicos, vendem a educação ao desbarato, sabotam os tranposrtes públicos, negligenciam o alojamento, desvalorizam a prestação de cuidados de saúde. Sem se preocuparem com o longo prazo, encaixam um lucro imediato a partir do caos social provocado pela pauperização, pelo desemprego, pela precariedade da sobrevivência e por essa ânsia de obter dinheiro a todo o custo, que apodrece o pensamento e os costumes de alto a baixo da miserável escala social."
Raoul Vaneigem, Pela Abolição da Sociedade Mercantil, Por uma Sociedade que Exalte a Vida, Teorema.
Tradução de Carlos Correia Monteiro de Oliveira
19.6.07
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1 comentário:
É nessa exacta óptica que os lucros da banca portuguesa são obscenos - porque não trarão benefício a ninguém a não ser à própria banca. Chamam a isto um país em desenvolvimento? Eu vejo simplesmente uma cascavel a desenvolver obesidade mórbida.
Por que motivos teremos tanta dificuldade em aprender com os erros históricos, nossos ou dos outros?
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