29.6.07

Big Boss is Watching You

12 comentários:

Anónimo disse...

Há um manifesto desacerto onomástico na designação "Partido Socialista". E isto vem de há muito desde que Mário Soares "meteu o socialismo na gaveta".Os mesmos "eufemismos" onomásticos se passam com os demais Partidos da Direita, que são de um conservadorismo ultra-montano. E não há Pachecos nem Marcelos que os salvem. Sobretudo esta última personagem - e o povo que o atura - é de partir o côco; com as suas classificações professorais a torto e a viés, ele, que é membro do PSD e não tem ponta de ética para assumir aqueles ares de "julgador" imparcial.

Já vivi, li, viajei o suficiente para saber que não há sistemas políticos bacteriologicamente puros. Todos descambam para os esgotos, sarjetas, boys e putarias, etc. Até os "heróicos" mauberes, apesar da bonita fábula de David contra Golias,de Ramos Horta e Ximenes, têm ao que se sabe, grande percentagem e jovens a querer a Língua inglesa e os "tiranos" indonésios

Eu só queria perguntar: No contexto europeu, monetário e político actual, qual dos nossos políticos é uma alternativa REALISTA -atendendo ao povo que somos- a J. Sócrates?
O J. M. sabe?

Descrente

JMS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JMS disse...

O contexto político e macro-económico actual é em grande medida fruto de escolhas não sancionadas pelos eleitores, fruto de decisões tomadas em instâncias internacionais obscuras e não democráticas como o Banco Mundial, o Banco Central Europeu, o FMI e demais organismos internacionais. Nesse contexto, a democracia é cada vez mais uma falácia e cada vez resta menos capacidade decisória a quem, suponho, é ainda a fonte de todo o poder em democracia: o povo. E enquanto o povo não se der conta de que a sua soberania lhe está a ser paulatinamente sonegada em favor dos interesses de uma clique mindial minoritária, bem pode continuar a votar tolamente no partido que quiser - nada mudará.
Neste momento, o voto PS é tão à esquerda como o voto PP ou o voto PSD. Neste contexto, e no plano imediato do possível, o menor dos males, segundo me parece, seria distribuir o mais equitativamente possível os lugares na Assembleia da República, para que o partido no governo não decidisse sozinho. Não é que isso, enfim, fosse mudar grande coisa, mas pelo menos a prepotência seria talvez menos visível. Quanto a soluções de fundo, só se dariam com um despertar político dos povos, quando estes decidissem refundar o sistema político em bases mais ampla e profundamente democráticas. E para que esse despertar pudesse eventualmente verificar-se, receio que a situação económica das pessoas tivesse que atingir um grau de degradação tal, que não lhes restasse senão sacudir a apatia e vir para a rua exigir o que lhes pertence.

Anónimo disse...

Agradeço a atenção e gostei de ler a fábula "fabulosa". Só que sou céptica acerca do "despertar político dos povos" e parece-me uma coisa tão mirífica como a "ressurreição dos mortos, no Juízo Final". Também acho que a entidade "povo" não é "naturalmente" boa e justa.A concorrida festança e apreciado espectáculo público dos autos-de-fé e toda a sorte de execuções bárbaras e sanguinolentas,o prova. Além de que as classes sociais, hoje, dependendo de continentes e culturas, têm as suas zonas de contiguidade, de inter-face, como agora se diz.

Acreditei até bastante tarde no valor da Instrução e da Cultura, até há meia dúzia de anos, quando encontrei num mini-mercado vizinho, um romeno que andava nas obras e que conhecia Dostoievsky e Camões. Ele andava a fazer baldes de massa. E uns cabrões analfabetos e boçais andam de cu bem alapado. Vá-se lá entender as "mais valias" deste mundo...

Quanto à ideia salomónica de distribuir irmamente a Assembleia pelos Partidos ia provocar uma completa paralisação do país. Ou teria de haver uma espécie de "Comissão de Desempate", nem que fosse a penalties...

Ah, amigo JM, só com um pouco de humor, lá vamos!
Só duas coisimnhas:
-Tenho pena que o fenómeno Cunhal tenha marcado tão paradigmaticamente o seu (dele) Partido, que não permitiu nunca mais, evolução ideológica.

- Parece-me que os governos são um reflexo dos próprios povos, das suas tendências e contingências, sistemas de casta, de hierarquias, género, etc. Esse povo, tadinho, de que fala é tão real como o Pai Natal.É apenas um símbolo.

Pessoalmente acho a gente do CDS e do PSD -salvo raríssimas excepções - consideravelmente mais repelente do que as facies da actual governação.

Afinal, ainda lhe restam esperançosos prazeres por desmanchar!
Boa madruga!

D.

JMS disse...

Não se pode desmanchar tudo, Descrente, senão a vida torna-se insuportável. Temos que fingir acreditar em qualquer coisita, mesmo que essa ficção não chegue para todos os dias e todas as horas.
O despertar dos povos é algo utópico, sem dúvida, mas a alternativa que se vai formando lentamente diante dos nossos olhos - uma espécie de tecno-fascismo pseudo-democrático – parece-me demasiado desoladora para encarar sem esperança nenhuma.

O ser humano não é naturalmente nada, cara Descrente. Não é naturalmente bom nem mau. Aquilo que somos depende em grande medida do contexto social em que crescemos. De todos os seres vivos, o homem é o menos determinado pela natureza. Acredito piamente que somos aquilo em que acreditamos, ou em que nos fazem acreditar. Num contexto social onde se promove o egoísmo, o materialismo e a cupidez, dificilmente se pode esperar que a generosidade, a solidariedade e a cooperação mútua vinguem e compensem. Mas este tema é demasiado complexo para o âmbito de um mero comentário. Se Zeus me der vida e saúde, hei-de um dia escrever um longo post acerca dessa questão da “natureza humana”, que os conservadores usam como álibi para justificar a necessidade de senhores e escravos, governantes e governados, e que sempre me pareceu um conceito de teor ideológico, mais do que um facto.

O “problema” com a cultura, acho, não reside tanto no facto de ser desnecessária para “subir na vida” mas no facto de não contribuir necessariamente melhores pessoas.

Sim, a distribuição salomónica dos votos levaria possivelmente a ingovernabilidade do país. Mas não acho que isso fosse pior do que esta aceleração para o despenhadeiro. Mais vale não fazer nada do que fazer tudo mal. Ou não?

O comunismo em Portugal evoluiu ideologicamente - chama-se BE, o único partido socialista que temos actualmente. Quanto ao PC, o comunismo sempre me pareceu um horror, e jamais votaria neles (embora reconheça que as autarquias melhor geridas, pelo menos em termos urbanísticos, são as do Alentejo).

Nem sempre os governos reflectem os governados. Há alturas em que os governantes são melhores do que os governados, há alturas em que são piores. Em Portugal, as elites políticas e económicas são tradicionalmente do mais rasca e calculista que existe. A noção de servir o país é-lhes completamente alheia. Não passam de fura-vidas e arrivistas, uma gente mesquinha e moralmente vácua, cuja única ambição é sacar da actividade política o máximo de benefícios pessoais. O povo, no meio disso tudo, está como o mexilhão entre rochedo e maré. E quando a actividade política se converte quase exclusivamente numa arte da mentira, quando a propaganda ocupa o lugar do debate e da persuasão (o que em Portugal se torna fácil porque 90% dos portugueses não lêem), não podemos esperar que se formem eleitores conscientes das suas escolhas políticas...

JMS disse...

ERRATA

"mas no facto de não contribuir necessariamente para fazer de nós melhores pessoas"

Anónimo disse...

JM,

Agradeço de novo a sua disponibilidade para responder às minhas perplexidades, com elegância verbal e educação, coisa muito rara nos blogues, onde os autores só estão predispostos a ler: "Adorei"; "És fantástico"; "estou aqui, porque sou da tua matilha".

No que respeita à "natureza" estou de acordo consigo, no essencial; embora certas teorias genéticas recentes, se inclinem para que determinados cromossomas do genoma humano, tragam já determinados "marcadores", que vão influenciar e muito os indivíduos, tipo doenças, orientação sexual, etc.
Evidente que quando disse que a "vítima/povo" - o tal mexilhão - não era "naturalmente" bom (atenção às aspas), também referi contextos, continentes, contingências, etc. Há mais de 29 anos que li sobre a "negritude" e o Senghor, o Lêvy-Strauss e o binómio natureza/cultura, leituras que me ajudaram a afastar simplismosa de análise, sobre "naturezas".

Quanto ao BE, respeito, conheço algumas pessoas e até já votei neles. O Louçã, entre outros é sem dúvida um excelente elemento que, neste país está sub-aproveitado. Mas, aí é que entra o PC. Com um Alentejo do latifúndio e da fome, fiel "aos nossos camaradas", teria sido excelente ter englobado essa fidelidade, tão argamassada em décadas de míngua e fascismo, num PC renovado e virado para enfrentar novas realidades. Porque o BE é sobretudo um Partido urbano, não vale apena não notar. O tal povo-tadinho não vota no BE. Vota mas é no Partido do sr. padre, que organiza umas excursões porreiras a Fátima no 13 de Maio, ou no Partido do Presidente da Junta, que promove que a filha (do povinho-tadinho), mãe solteira, tenha o rendimento mínimo de inserção, apesar da beneficiária estar a trabalhar em Inglaterra.

Quanto à falta de crenças, entendo que quando se é mais novo,esta tragi-comédia custe a suportar sem algum alibi. Mas, quando se sabe a história dos avós, dos pais, a nossa, a dos nossos filhos e já alguma dos nossos netos(com todas as circunstâncias de época), há lastro suficiente para dispensar alibis, manter o senso crítico, a desconfiança das marilhas e um bom sentido de humor.

Anónimo disse...

Erratsa:
"a desconfiança das matilhas"
"há mais de 20 anos"
e mais alguma gralhita dispersa.

Bom fim de tarde.
D.

Cadáver Morto disse...

Como sempre ando aqui à espreita...
E se não escrevo é porque não estou praí virado. Coisas da Vida.

No entanto, meu caro JMS, apesar do Alzheimer julgo recordar que alguém escreveu "Os rapazes de oito anos são naturalmente fascistas". Estarei enganado? Ou serei só cínico?

JMS disse...

Ah, meu caro, sabia que me ias apanhar por aí. És mais fino do que o inspector Poirot.
Mas devo dizer-te que isso do "naturalmente fascista" pretendia obviamente ser uma provocação. Toma! Trata-se de uma corrupção do dito de Tertuliano, que diz que a alma humana é naturalmente cristã.
Mas folgo em saber-te leitor atento e dedicado dos meus versitos.

Anónimo disse...

José Miguel,

Em relação ao que dizes sobre as questões ligadas "à cultura", não me parece que pôr o problema em termos de tornar ou não as pessoas "melhores" faça sentido no nosso país. Não é que eu também não o tenha já posto. No entanto, pôr a questão nesses termos quando o nosso país é profundamente anti-intelectual, com uma taxa de analfabetismo há duas gerações atrás elevadíssima, acaba por legitimar o acesso da cultura a bem poucos, e dar argumentos aos que defendem a apologia dos analfabetos, mas felizes, porque a cultura é só para os "especialistas". O sistema universitário português na área das Humanidades, profundamente facilitista, é mais uma peça do puzzle.
A cultura e os valores ligados à sua promoção, pelo menos, dão prazer e harmonia social, a alguns complexidade, a outros virtude e, pelo menos, são a expressão de que na vida "nem tudo é pão"

Cadáver Morto disse...

Os teus versitos são a minha leitura de cabeceira, pá.